Perspectiva em Pintura e Desenho: Como o Cérebro Transforma uma Imagem 2D em 3D
Descubra como o olho e o cérebro trabalham juntos para transformar desenhos bidimensionais em ilusões realistas de profundidade e volume
Hoje vou falar sobre o que você precisa saber para criar profundidade em seus desenhos e pinturas. A perspectiva é a chave para dar profundidade às suas pinturas e desenhos.
Antes de começar quero saber: você já me acompanha há algum tempo ou acabou de chegar por aqui?
Eu prestei vestibular pra artes visuais com a intenção de saber como era a prova de habilidade específica. Naquele momento eu tinha certeza que eu não sabia desenhar. Tudo o que eu sabia sobre o assunto aprendi em uma disciplina de desenho técnico que fiz no ensino médio. Depois que eu passei no vestibular eu me comparava com colegas que desenhavam muito melhor do que eu. Naquele momento tive a certeza que eu não sabia nada de desenho nem de pintura. Eu sempre escondia meus desenhos nas aulas de desenho.
Hoje eu entendo que eu não sabia criar desenhos realistas, com profundidade, volume e etc... Passei no vestibular por que tinha várias habilidades artísticas que eu nem sabia que tinha, o que é assunto pra outra hora. Depois fui entender que criar a ilusão de profundidade é uma coisa complexa. Complexa no sentido de que é formada por várias partes. E é exatamente sobre essas partes que eu vou falar hoje.
Volume e Pintura
Não sei se você sabe, mas as três dimensões são altura, largura e profundidade. Uma pintura tem duas delas, a outra é praticamente inexistente. Apesar disso existem pinturas que nos fazem ter certeza que é possível entrar nela, caminhar pelos espaços representados, pegar os objetos e sentar nos móveis, como se aquilo fosse um espaço real.
Essa ilusão é muito valorizada por algumas pessoas, mas não foi sempre assim. Você já viu uma pintura medieval? Se não viu vou deixar uma aqui em baixo pra você ver.
Nessa época ninguém achava importante criar a ilusão de profundidade. Na verdade era até meio errado. A pintura é bidimensional, fazer parecer tridimensional é mentira e mentira é coisa do capiroto. (É um pouco mais complicado que isso, mas eu gosto de pensar que era assim)
Mas quando um ser humano resolveu valorizar esse papo de pintar uma chapa e fazer ela parecer o cômodo de uma casa? Se na idade média quem fez o mundo foi Deus e o homem não podia tentar ser Deus no renascimento a coisa muda e o ser humano passa a querer dominar o mundo. Por isso eles passam a estudar as leis que regem o mundo com a intenção de usar essas regras pra criar uma reprodução do mundo. Quase brincar de ser Deus. Conhecendo essas regras artistas como Leonardo da Vinci e Michelangelo buscaram representar o mundo com o máximo de realismo.
Como artista é um ser inquieto, movimentos como o impressionismo e artistas como Cézanne inventaram que já não dava mais pra perder tanto tempo estudando esse monte de regrinha. Até por que a fotografia já estava surgindo e era bem mais fácil bater uma foto do que usar vinte anos de treinamento para pintar uma tela. Então eles desistiram dessa ideia de "realismo perfeito" e passaram a entender que a arte não precisaria seguir regras estritas para ser boa. (Cézannee pintava cada coisa a partir da perspectiva que ele julgasse mais interessante pra composição da pintura, mais ou menos como os egípcios faziam, sabe ?) Cézannee tinha treinameneto em pintura, então nunca abandonou as regras de fato, a noção de volume e profundidade sempre esteve presente de alguma forma em sua obra.
Chega de história, vamos ao que interessa
Entender a relação entre o olho, o cérebro e o mundo tridimensional é a chave para quem quer criar profundidade. O olho funciona como uma câmera que capta luz e projeta na retina, que é bidimensional. Então o que temos de informação na retina são apenas manchas de luz e sombra. O cérebro tem que se virar pra interpretar isso e reconstruir o mundo que é tridimensional e não para de se mexer, montando a imagem que percebemos como um filme em 3D.
É claro que pra fazer isso o cérebro usa regras, que são exatamente as mesmas que os renascentistas usavam. Na verdade é mais de um conjunto de regras. Quando prestei vestibular eu sabia usar a perspectiva de forma satisfatória, mas não fazia ideia de como usar luz e sombra, ou perspectiva atmosférica. Com o tempo fui entendendo isso e catalogando esses conjuntos de regras. Pra mim as principais são:
- Sobreposição: O que está sendo visto por inteiro geralmente está na frente do que está parcialmente coberto. Parece óbvio e na verdade é.
- Proporção (ou Perspectiva): Objetos maiores no campo visual tendem a ser percebidos como mais próximos. E isso é proporcional, ou seja, com uma regra de três você consegue MEDIR os tamanhos e distâncias dos objetos. Você não precisa fazer isso, mas os renascentistas faziam.
- Luzes e Sombras: A forma como a luz incide e as sombras que se formam ajudam a definir o volume e a profundidade. É difícil explicar isso por texto, tem um vídeo onde eu exploro essa conversa toda de modo mais visual, talvez ele seja mais fácil de entender do que esse texto -> toque aqui e veja o vídeo
- Perspectiva Atmosférica: Elementos mais nítidos e detalhados são percebidos como mais próximos, enquanto aqueles mais borrados ou desbotados parecem estar mais distantes. Isso funciona principalmente pra paisagens, ou grandes distâncias. Em uma natureza morta por exemplo esse efeito é inútil.
Separar esses conjuntos de regras me ajudou muito a melhorar meu desenho e pintura, me fez conseguir focar e ir melhorando em cada parte de forma mais rápida e assertiva. Eu acho isso tão útil que estou pensando até em fazer um laboratório prático sobre esse tema. O último que fizemos, sobre as receitas de têmpera ovo, foi tão bom que eu acho que ia ser ótimo ter um espaço pra gente se aprofundar nesse tema.
Se você quiser saber um pouco mais sobre o Laboratório Receitas de Têmpera Ovo é só tocar no link → https://ovictoralarcon.github.io/pages/laboratorio-receitas
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Até Sábado e vá pintar!